21 de julho de 2009

Sonhos de alface

Uma vez, por volta de meus 4 ou 5 anos, pensei ter encontrado a solução para o único problema do planeta: a fome. Sim, o único, já que no esplendor da minha infância, os únicos problemas que poderiam assolar o mundo eram a fome e o frio. Nunca passaria pela minha cabeça desigualdade social (a raiz dos males), crises econômicas, violência,... Enfim, voltando à minha master solução, estava folhando uma revista de recortes para fazer aqueles trabalhinhos do jardim de infância e eis que me deparo com a foto de uma vasta plantação de alface que ocupava a página inteira. Folhas verdinhas, limpinhas, "brilhosas"! E mais adiante, um agricultor, bem aprumado, cuidava com admirável zelo de cada pezinho, para que todos chegassem saborosos à nossa mesa. Vendo aquilo, não me restava mais nada senão pensar: "Aqui está! Basta que eu arranque esta folha e dê para os pobres! Cada um come um desses pés de alface e fica satisfeito!" Fitei durante horas a gravura, a única capaz de salvar o mundo... Mas será que tinha gosto de alface mesmo? Olhei para os lados, a fim de que ninguém estivesse me olhando, e dei uma singela lambida na folha. Realmente, o que eu temia, de fato, aconteceu. Não tinha gosto algum! Não satisfeita, arranquei um pedaço do papel e coloquei-o na mochila. Estava disposta a experimentá-lo quando chegasse em casa no fim da tarde. Uma lambida é apenas uma lambida, ora. Comer é o que importava. E passei a tarde inteira quieta, para que ninguém descobrisse meu segredo. Só precisava de algumas várias fotos de comida e, shazam: fim da fome!
Chegando em casa, fui direto para o meu quarto. Abri a mochila e puxei a foto com o pé de alface. Comi. Pobre de mim... Nem preciso dizer que naquele exato momento meu mundo caiu e meu miserável sonho de criança desfez-se como um papel higiênico jogado no vaso. Nem tinha gosto, aquela miséria!
Ai de mim novamente!

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