1 de abril de 2011

Amor de orelhão

A Lena nunca entendeu muito bem loucuras de amor... Até cometerem uma CONTRA ela.
Ela, completamente apaixonada por ele, quatro pneus arriados, era um amor que chegava a dilacerar. Ele correspondia. Ligava pra ela todos os dias, do orelhão, a cobrar. Mas um dia foi diferente: ele ligou pra Lena, uma voz pândega, e disse que não poderia mais vê-la. Desligou. Aí o coração da pobre moça não resistiu: sucumbiu em prantos. No dia seguinte, ele ligou, a cobrar. Assim que terminou a mensagem automática da telefonista, um curto silêncio se estendeu até ele encerrar a chamada. 'Ele ainda me ama', iludiu-se a ingênua apaixonada. Naquele mesmo dia, ele ligou várias e várias vezes; esperava alguns segundos e desligava. E assim sucedeu-se durante um longo tempo, o que só servia pra aumentar a angústia da Lena, intrigá-la e deixá-la mais enamorada. Ela ficava cada vez mais envolvida por aquelas ligações de curto silêncio, tão misteriosas quanto o sumiço dele. Mas uma vez foi diferente: logo depois da mensagem automática, a Lena ouviu ele dizer '(...)espera, espera, eu te amo', soluçando em prantos. Desligou. Ela chorou. Sempre soube... Mais uma ligação. Dessa vez ele estava cantando '(...)Do what you do, down on me'. Ah, era o homem da vida dela! E estava ciente que sua sina era submeter-se a esse amor insano se quisesse levar esse caso adiante. (...)
Depois de tanto tempo, ele continua ligando pra Lena a cobrar, sempre dizendo frases românticas, falando em paixão platônica e cantando em prantos. Ela acha isso tudo puramente romântico, zela com fervor por essa paixão que beira a loucura, o paradoxal, o incoveniente. Pobre entusiasta, enquanto se distrai com tal ilusão, nem imagina que as inclinações dele são todas para ela, a telefonista.

Ô Lena, tão apaixonada, não passas de mera coadjuvante num triângulo amoroso ao pé do orelhão.

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