4 de dezembro de 2009

Eu tava sonhando, falando, pedindo bem baixinho, a realização de apenas um desejo. Deixei de lado todos os meus ímpetos, me concentrei no meu anseio, meu único pedido: me leve pra perto do único que me apetece, o único que norteia meu caminho, que não se faz mais presente mas que eu posso senti-lo... É uma coisa puramente espiritual, vem de dentro, da pobre alma. Algo que contrapõe todo o ceticismo inerente a mim, confronta-me com todas as forças místicas, aquelas por entre as brumas, e me faz acreditar no sublime.
Em paz com a minha duvidosa fé (espero que não precise ser colocada à prova), volto ao meu ensejo: por favor, eu suplico, eu imploro, uma única vez quero estar perto dele, falar o que nunca pude já que mal sabia pronunciar, ouvir qualquer palavra torta que ele entoe, sentir um abraço, um colo, um carinho, qualquer afago miserável já me seria de bom grado. Quero contar toda a minha vida, toda a falta que me fez, toda sua influência involuntária que moldou meu "EU". Sentar ao lado dele, saber de toda a sua história também... Uma conversa bastante recíproca. Porém, não completamente quando o assunto fosse os seus discos... Ah, os discos de vinil. A partir daí, eu iria somente ouvir. Todo o seu gosto musical, impecável, desde os boleros até a música erudita, passando pelo blues, jazz, o delicioso country, o maravilhoso rock n' roll. Aaaah, quanta coisa! Tanta vida em lacunas que a gente poderia ter preenchido. Mas parece que eu falo sozinha, no meu quarto, ao pé da cama, implorando encarecidamente pela sua presença, meu pedido, meu desejo. Ninguém atende minhas preces. O sublime não existe. Estava apenas tentando mascarar a fé derradeira em mim para tentar encontrá-lo. Quanta tolice! Tudo acabou no momento em que ele partiu e todo esse meu anseio vai ficar perdido em algum lugar em mim, até o dia em que eu insista em tentar novamente.

Marco Aurélio, meu pai.