4 de abril de 2009

O dia em que ela partiu... pela porta dos fundos

Nenhum outro dia me causa tanto desgosto quanto o dia em que ela me deixou. Foi embora, nem mesmo lembrou-se de mim em seu último suspiro. Ou, talvez, tenha lembrado num ínfimo gemido de dor. Quem sabe? O fato é que, hoje, sentada aqui, mergulhada num imenso poço sem fundo, um buraco sem fim, uma fossa de lama pegajosa, subitamente entra em minhas narinas o cheiro dela. Ah, nada me deixa tão entorpecida quanto seu cheiro, um cheiro que por vezes esteve em meus cabelos, minhas roupas, meus brinquedos. Aquele perfume que eu só encontrava nos móveis de sua sala, seu guarda-roupa, seus gatos, enfim, tudo nela.
Ah, os gatos... jamais existirá um ser que me desperte tanto ódio! Mal posso descrever nestas breves linhas o quanto é grande meu desprezo! Mas os gatos dela eram diferentes... Eu sentia que eles gostavam dela, faziam-na feliz e, por vezes, até chegava a passar pela ideia que eles de certa forma a protegiam. As vezes parecia até que gostavam de mim, inclusive.
Mas não posso lembrá-la sem deixar de citar nossos mágicos veraneios na praia! Hahaha! Os melhores anos da minha medíocre vidinha se encerram ali, na casa da praia. Mas estes prefiro guardar pra mim para que sua essência seja preservada. Me dá um aperto tão grande...
No dia em que ela partiu, pela porta dos fundos, mandaram que à noite eu procurasse a estrela mais brilhante no céu, pois aquela seria ela, sorrindo com seus dentes amarelados pra mim. Pobre de mim, tão tola, tão ingênua e inocente, por vezes saí à porta para procurá-la, a estrela mais brilhante do céu. Mas estava nublado... ela havia me abandonado, nem mesmo estava lá no céu, póstuma, sorrindo para mim. Então eu soube que era definitivo. PRA SEMPRE.

Saudade infinita. Um tempo que não volta mais. Um espaço vazio - me dói dizer isso - preenchido, porém, opaco.

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